Em Mangueira...

 Em Mangueira... 

No seio do Rio, ergue-se o Morro da Mangueira, um pequeno reino à parte, repleto de cultura e vida. Lá, a verde e rosa, Estação Primeira de Mangueira, qual joia reluzente, brilha no firmamento do carnaval carioca, com seus poetas e músicos, em uma sinfonia que ecoa nas vielas e praças.

Cartola, o visionário dos versos, Nelson Cavaquinho, cuja melancolia destila em cada acorde, Carlos Cachaça, a voz da tradição, e Nelson Sargento, testemunha viva dos tempos idos, tecem a tapeçaria sonora que embala almas na cidade do samba.

No salão da vida, o mestre sala Delegado e a graciosa porta-bandeira Mocinha deslizam, como um poema em movimento, honrando a tradição de seus antepassados e enaltecendo a ancestralidade que pulsa nas veias de Mangueira.

Xangô da Mangueira, o trovador do povo, canta a luta e a resistência, suas notas como o grito de um guerreiro nas trincheiras da desigualdade. Jamelão, a voz de veludo que ressoa no coração da cidade, é o guia sonoro na passarela do samba dessa comunidade que se orgulha de suas raízes.

E as matriarcas, dona Zica e dona Neuma, guardiãs da tradição, sábias mulheres que mantêm a chama acesa. São elas o pilar, o alicerce, que sustenta esse Morro de histórias e sonhos.

Mas não só de festa e música é feita a Mangueira. As vielas, como testemunhas de tantas histórias, revelam também o lado amargo. As injustiças sociais que pesam sobre os ombros da comunidade, as dificuldades que desafiam a dignidade de seus habitantes.

Assim, o Morro da Mangueira se enraíza na paisagem carioca, não apenas como um amontoado de casas e becos, mas como um monumento à resistência, à cultura e à identidade de um povo. A Mangueira é um livro vivo, cujas páginas são escritas a cada batida de surdo, a cada grito de alegria, a cada lamento de dor. Então, Mangueira, com sua magnífica e peculiar história, se ergue como um farol, iluminando o caminho da cidade do Rio de Janeiro.

Imagem: Morro da Mangueira, novembro de 1965. Arquivo Nacional.