O hotel
Naquele cantinho da Lapa, erguia-se o modesto hotel. Não um palácio, mas um abrigo de sombras, onde almas perdidas e andarilhos da vida encontravam guarida.
Por suas portas giratórias passavam personagens de uma ópera urbana, cada qual com sua própria partitura de infortúnios. Os malandros, olhares calejados pela rua, traziam consigo os mistérios da noite, entre segredos e charutos acesos.
As meretrizes, vestes coloridas e olhares cansados, eram senhoras de uma outra face da cidade. Suas risadas escondiam histórias de dor e desilusão, mas também de uma sobrevivência audaciosa.
Os cafetões, sombras que pairavam à margem, eram os maestros do submundo, regendo negócios ilícitos e corações desgastados. Entre risos falsos e olhares de aço, manipulavam destinos, sempre às escuras.
Os jogadores de baralho, homens de sorte e azar entrelaçados, tinham suas apostas marcadas no coração da Lapa. Naquele hotel, as cartas dançavam ao ritmo dos suspiros e juras de vingança.
Os trabalhadores da estiva, peões da cidade, encontravam refúgio nas horas breves de descanso. Eles, que suavam e labutavam sob o olhar indiferente das esquinas, viam no hotel um breve oásis de alívio.
A repressão policial, penumbra que espreitava, pairava como um espectro naquelas paredes. Olhos atentos vigiavam cada movimento, e a arbitrariedade caminhava de mãos dadas com a truculência.
E assim, o hotel na Lapa era um microcosmo da cidade, um mosaico de destinos entrelaçados, onde a dor e a esperança, alegria e amargura, se mesclavam como notas dissonantes em uma sinfonia urbana.
Naquelas paredes gastas, naquelas alcovas discretas, o Rio de Janeiro pulsava em sua essência mais crua e autêntica. Ali, na Lapa, a cidade revelava suas vísceras, seus segredos e contradições, em um espetáculo diário de vida e sobrevivência. E o hotel, testemunha silenciosa, guardava em seus corredores as histórias de todos que por lá passavam, traçando na memória da cidade um capítulo singular de sua efervescente existência.
Hey! Este hotel foi inaugurado quando?
ResponderExcluirEste hotel da foto que ilustra o texto, foi fundado em 1966.
Excluirquanta memória e quanta história uma fotografia traz à tona!
ResponderExcluir