A Divisão Histórica e Social entre Sunitas e Xiitas: Origens, Diferenças e Impactos nos Conflitos Políticos Contemporâneos


A divisão entre sunitas e xiitas remonta ao ano 632, logo após a morte do profeta Maomé, e é uma das mais antigas e persistentes rixas internas dentro do Islã. Embora ambas as vertentes compartilhem muitas crenças e práticas fundamentais do Islã, as diferenças teológicas, políticas e sociais criaram profundas distinções entre as duas, gerando um impacto duradouro na política, religião e conflitos no Oriente Médio e em outras regiões. Este artigo explora as raízes dessa divisão, suas manifestações contemporâneas e seu papel nos conflitos geopolíticos do século XXI.

O Surgimento do Islamismo e a Morte do Profeta Maomé

O Islã surgiu no início do século VII na Península Arábica, com o profeta Maomé como a figura central. Nascido em 570 d.C. em Meca, Maomé era um comerciante respeitado que começou a receber revelações divinas aos 40 anos de idade. Essas revelações, compiladas no Alcorão, formam o fundamento da fé islâmica. Maomé unificou tribos árabes e estabeleceu o Islã como uma força política e religiosa significativa na região. 

Entretanto, a morte de Maomé em 632 d.C. desencadeou uma crise de sucessão. Sem deixar claro quem seria seu sucessor, a liderança da comunidade muçulmana (Umma) tornou-se um ponto de discórdia. Foi a partir dessa disputa pela sucessão que se formaram os dois principais ramos do Islã: os sunitas e os xiitas.

O Cisma: Sunitas e Xiitas

A principal questão que separava os dois grupos era quem deveria liderar a comunidade muçulmana após a morte de Maomé. 

- Sunitas: A maioria dos muçulmanos, cerca de 86% a 90%, identificam-se como sunitas, que acreditam que o líder da comunidade muçulmana (califa) deve ser escolhido entre os seguidores mais capazes de Maomé, sem a necessidade de laços sanguíneos. O primeiro califa escolhido pelos sunitas foi Abu Bakr, um dos companheiros mais próximos de Maomé. Para os sunitas, o califado é uma instituição política e religiosa, mas o líder não possui autoridade divina.

- Xiitas: Os xiitas, que representam cerca de 10% a 14% dos muçulmanos, acreditam que o legítimo sucessor de Maomé deveria ser alguém de sua linhagem direta. Eles apoiaram Ali, primo e genro de Maomé, como o primeiro imã (líder espiritual), pois viam a liderança como algo que deveria permanecer na família do profeta. Após a morte de Ali e seus dois filhos, Hassan e Hussein, os xiitas desenvolveram uma forte tradição de martírio e luto, especialmente em torno do massacre de Hussein na Batalha de Karbala, em 680 d.C.

Diferenças Doutrinárias e Organizacionais

Apesar de compartilharem muitos aspectos essenciais da fé islâmica, como a crença em Alá, o Alcorão e o profeta Maomé, as duas vertentes possuem diferenças significativas em suas doutrinas, práticas e organização.

- Sunitas:

  - Veneram todos os profetas mencionados no Alcorão, com destaque para Maomé.

   - A liderança da comunidade é vista como uma questão temporária, sem autoridade divina. 

 - A interpretação da lei islâmica (sharia) é derivada das ações e ensinamentos do profeta (a Sunnah), codificada em quatro escolas jurídicas principais: Hanafi, Maliki, Shafi'i e Hanbali.

  - Os líderes religiosos sunitas, como os imãs, geralmente não possuem uma hierarquia formal e têm uma ligação histórica com o Estado, sendo muitas vezes funcionários governamentais.

- Xiitas:

  - Acreditam que os imãs, descendentes de Ali, possuem autoridade divina e são infalíveis na interpretação da fé islâmica.

  - A tradição xiita inclui um elemento messiânico, com a crença no retorno do último imã, o Mahdi, que trará justiça e paz ao mundo.

   - Os xiitas têm uma hierarquia de clérigos, onde os aiatolás e marjas (autoridades religiosas) desempenham um papel crucial na interpretação e aplicação da lei islâmica.

  - O ritual de luto de Ashura, que marca o martírio de Hussein, é um dos eventos mais importantes do calendário religioso xiita.

A Geopolítica da Divisão Sunita-Xiita

A divisão entre sunitas e xiitas também tem repercussões políticas profundas, que se tornaram mais evidentes nos últimos séculos. A rivalidade entre esses dois grupos foi exacerbada por fatores externos, como a interferência colonial, a criação de Estados-nação no Oriente Médio, e mais recentemente, pela competição por poder e influência entre o Irã (maioritariamente xiita) e a Arábia Saudita (líder sunita).

Distribuição Geográfica e Demográfica

A distribuição dos sunitas e xiitas varia significativamente ao redor do mundo. Embora os sunitas sejam a maioria global, os xiitas têm uma presença significativa em várias regiões.

Sunita (86%-90%):

- Arábia Saudita (Sunita majoritária)

- Egito (Sunita majoritária)

- Turquia (Sunita majoritária)

- Indonésia (Sunita majoritária)

- Paquistão (Sunita majoritária, com uma minoria xiita) 

Xiita (10%-14%):

- Irã (Xiita majoritária)

- Iraque (Xiita majoritária)

- Líbano (Influência significativa xiita, especialmente com o Hezbollah)

- Síria (Embora o governo de Bashar al-Assad seja de uma minoria alauíta, uma ramificação xiita, a população é predominantemente sunita)

- Bahrein (Xiita majoritária, mas governado por uma elite sunita)

Conflitos Recorrentes e Tensões Contemporâneas

Os conflitos modernos no Oriente Médio e em outras regiões muçulmanas muitas vezes acentuam as tensões entre sunitas e xiitas, transformando diferenças religiosas em ferramentas para agendas políticas. 

- Irã e Arábia Saudita: A rivalidade entre o Irã, uma república islâmica xiita, e a Arábia Saudita, uma monarquia sunita, está no centro de muitos conflitos regionais. Ambos os países competem pela influência sobre grupos religiosos e políticos em países vizinhos, o que tem levado a uma "guerra por procuração" em lugares como Iêmen, Síria e Líbano.

- Síria: A guerra civil na Síria, que começou em 2011, destacou o apoio de Teerã ao regime de Bashar al-Assad, pertencente à minoria alauíta. Por outro lado, grupos rebeldes sunitas, apoiados por nações do Golfo, complicaram ainda mais a dinâmica sectária.

- Líbano: No Líbano, o Hezbollah, um grupo militante xiita, tornou-se uma força dominante na política e na sociedade. Apoiado pelo Irã, o Hezbollah desafia grupos sunitas e cristãos, aumentando a tensão entre os diferentes setores religiosos do país.

- Iraque: Desde a invasão dos EUA em 2003, o Iraque se tornou um dos principais campos de batalha na rivalidade entre sunitas e xiitas. A queda de Saddam Hussein, um sunita, permitiu que a maioria xiita do país ascendesse ao poder, mas isso gerou reações violentas de grupos sunitas, incluindo o surgimento do Estado Islâmico.

- Iêmen: A guerra civil no Iêmen, iniciada em 2014, é outro exemplo de como a rivalidade entre sunitas e xiitas se traduz em conflitos armados. Os houthis, um grupo xiita, assumiram o controle da capital, Sanaa, desafiando o governo sunita, que é apoiado pela Arábia Saudita.

O Futuro das Relações Sunita-Xiita

A divisão entre sunitas e xiitas não parece estar próxima de uma resolução, e a política contemporânea muitas vezes explora essas diferenças religiosas para ganhos estratégicos. Embora existam esforços para promover a coexistência pacífica entre os dois grupos, o uso de identidades religiosas para mobilizar apoio em conflitos políticos e militares pode continuar a alimentar a violência.

A chave para a paz e a estabilidade no Oriente Médio e em outras regiões afetadas pode residir na criação de um diálogo inter-religioso genuíno, onde sunitas e xiitas possam reconciliar suas diferenças e trabalhar em conjunto para resolver os desafios sociais e econômicos que afetam ambas as comunidades. Contudo, enquanto os interesses geopolíticos de potências regionais continuarem a explorar as divisões sectárias, o caminho para a paz permanecerá cheio de obstáculos.


A distribuição de sunitas e xiitas no mundo, incluindo países africanos, da antiga União Soviética, Europa Central e Ásia. Em ordem alfabética:


Afeganistão: Cerca de 85% a 90% da população é sunita, com os xiitas, principalmente da etnia hazara, representando entre 10% e 15%.


Argélia: Aproximadamente 99% da população muçulmana é sunita, com a presença xiita sendo insignificante, abaixo de 1%.


Arábia Saudita: A maioria (85% a 90%) da população muçulmana é sunita, sendo o país um centro de influência do wahabismo, com cerca de 10% a 15% de xiitas concentrados na província oriental.


Azerbaijão: A maioria muçulmana do país é xiita, com cerca de 85% da população seguindo essa vertente, enquanto 15% são sunitas.


Bangladesh: A maioria esmagadora da população muçulmana é sunita, cerca de 90% a 95%, com uma pequena minoria xiita, inferior a 1%.


Bahrein: Embora cerca de 30% a 35% da população seja sunita, a maioria (60% a 65%) é xiita, governada por uma minoria sunita.


Cisjordânia e Palestina (incluindo Faixa de Gaza): A maioria dos muçulmanos palestinos são sunitas, com cerca de 99% da população seguindo essa vertente. A presença xiita é praticamente inexistente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.


Chade: Aproximadamente 55% da população muçulmana é sunita, com uma pequena minoria xiita, representando entre 3% e 5%.


Catar: A maioria da população muçulmana no Catar é sunita (cerca de 90%), com uma minoria xiita em torno de 10%.


Egito: Quase toda a população muçulmana no Egito é sunita, representando cerca de 90%. A presença xiita é mínima, inferior a 1%.


Emirados Árabes Unidos: A população muçulmana é predominantemente sunita, com cerca de 85%, enquanto os xiitas compõem aproximadamente 10% a 15%.


Indonésia: O maior país muçulmano do mundo é predominantemente sunita, com cerca de 99% de seus muçulmanos seguindo essa vertente. Xiitas representam menos de 1% da população.


Irã: O Irã é amplamente xiita, com cerca de 90% de sua população seguindo essa vertente. Menos de 5% da população é sunita.


Iraque: Cerca de 60% a 65% da população é xiita, enquanto os sunitas representam entre 30% e 35%, com divisões sectárias significativas.


Israel: A comunidade muçulmana em Israel, incluindo os árabes israelenses e palestinos residentes, é majoritariamente sunita, com aproximadamente 85% a 90% da população muçulmana aderindo ao sunismo. Há uma presença muito pequena de xiitas, mas eles são numericamente insignificantes.


Iêmen: O país é dividido quase igualmente entre sunitas (55%) e xiitas (45%), com a maior parte dos xiitas pertencendo à seita zaydita, que inclui os houthis.


Índia: Cerca de 14,2% da população é muçulmana, o que representa aproximadamente 200 milhões de pessoas. Entre os muçulmanos indianos:

  • 85% a 90% são sunitas.
  • 10% a 15% são xiitas.

Essa divisão coloca a Índia como um dos países com a maior população xiita fora do Oriente Médio, embora o sunismo seja dominante no país.


Jordânia: A população muçulmana da Jordânia é majoritariamente sunita (cerca de 95%), com uma presença xiita insignificante.


Kuwait: Aproximadamente 70% da população muçulmana no Kuwait é sunita, enquanto 30% são xiitas.


Líbano: A população muçulmana é dividida entre cerca de 40% a 45% de sunitas e 25% a 30% de xiitas, sendo os xiitas bastante influentes, em parte devido ao Hezbollah.


Líbia: Quase toda a população muçulmana na Líbia é sunita, representando cerca de 97%, com uma minoria xiita inferior a 1%.


Malásia: A maioria esmagadora da população muçulmana na Malásia é sunita (cerca de 70% a 75%), com uma minoria xiita estimada em cerca de 1% ou menos.


Mali: A maioria da população muçulmana no Mali é sunita, com cerca de 90% a 95%, e uma minoria xiita muito pequena.


Marrocos: Quase toda a população muçulmana é sunita, com 99% da população aderindo a essa vertente e menos de 1% de xiitas.


Nigéria: Aproximadamente 50% a 55% dos muçulmanos nigerianos são sunitas, com uma minoria xiita em torno de 5%, localizada principalmente no norte.


Paquistão: Cerca de 85% a 90% da população é sunita, enquanto os xiitas representam entre 10% e 15%. O país é palco de tensões sectárias ocasionais.


Quirguistão: A maior parte da população muçulmana é sunita, com cerca de 75% a 80%, enquanto uma minoria xiita é quase inexistente.


Rússia (região do Cáucaso e Tartaristão): A maioria dos muçulmanos na Rússia é sunita, especialmente nas regiões de Tartaristão e Bashkortostão. No entanto, há minorias xiitas em áreas como o Daguestão.


Senegal: A população muçulmana é majoritariamente sunita, representando entre 90% e 95%, com quase nenhuma presença xiita.


Singapura: A população muçulmana é predominantemente sunita, representando cerca de 80% a 90%, com uma pequena minoria xiita, inferior a 1%.


Síria: A população muçulmana da Síria é predominantemente sunita, com cerca de 70% a 75% pertencendo a essa vertente, enquanto os xiitas, incluindo a seita alauíta, formam entre 10% a 15%.


Somália: A quase totalidade da população muçulmana da Somália é sunita, com menos de 1% de xiitas.


Sudão: Cerca de 90% a 95% da população muçulmana no Sudão é sunita, com uma minoria xiita inferior a 1%.


Tadjiquistão: A maioria da população muçulmana é sunita (cerca de 90%), com uma presença xiita de aproximadamente 5% a 10%.


Tunísia: A população muçulmana é predominantemente sunita, com cerca de 99% seguindo essa vertente.


Turcomenistão: Cerca de 90% da população muçulmana é sunita, com uma presença muito pequena de xiitas, inferior a 1%.


Turquia: Aproximadamente 75% a 80% da população muçulmana é sunita, com entre 10% e 15% pertencendo à seita xiita alevita.


Uzbequistão: A grande maioria dos muçulmanos, cerca de 90%, é sunita, com uma minoria xiita de aproximadamente 5% a 10%.




Essa descrição mostra que o sunismo é predominante na maioria dos países muçulmanos, enquanto os xiitas são majoritários em países como o Irã, Iraque, Bahrein e Azerbaijão, além de possuírem minorias notáveis em diversas outras regiões, incluindo o Líbano e partes do Golfo Pérsico. Nos países da antiga União Soviética e na Ásia Central, o Islã sunita prevalece, enquanto o xiismo tem menor expressão.

Observações:

1. Sunitas constituem a maior parte dos muçulmanos, representando aproximadamente 85% dos seguidores do Islã no mundo.

2. Xiitas formam uma minoria significativa, com maiores concentrações no Irã, Iraque, Bahrein e partes do Líbano e Iêmen.

3. Em países africanos, a maioria muçulmana é predominantemente sunita, com pequenas comunidades xiitas em alguns países, como Nigéria e Chade.

Nota: Esses números são aproximados e podem variar de acordo com a fonte e a situação política de cada país.

Fontes:  Arab Barometer e CIA World Factbook


O Papel da Divisão Sunita-Xiita nos Conflitos Políticos Contemporâneos

A divisão entre sunitas e xiitas, que teve início com a questão da sucessão de Maomé, continua a ser um fator central nos conflitos políticos e sociais do mundo islâmico. Ao longo da história moderna, especialmente no século XX, essa rivalidade tornou-se uma ferramenta poderosa nas mãos de governos e movimentos regionais, que exploraram as divisões sectárias para consolidar poder e influência. A partir da Revolução Iraniana de 1979, esse cisma ganhou novas dimensões geopolíticas, transformando o Oriente Médio em um campo de batalha para as duas vertentes do Islã.

Revolução Iraniana e o Ressurgimento Xiita

A Revolução Iraniana de 1979 foi um marco na história contemporânea do Islã e no conflito entre sunitas e xiitas. Com a derrubada do xá Reza Pahlavi, apoiado pelo Ocidente, o Irã tornou-se uma república islâmica teocrática sob a liderança do aiatolá Ruhollah Khomeini. Esta revolução deu origem a uma agenda política baseada na exportação da revolução islâmica, com o objetivo de inspirar e apoiar movimentos xiitas em todo o mundo muçulmano, o que desafiou a ordem sunita estabelecida, especialmente na região do Golfo Pérsico.

Países como a Arábia Saudita, lar dos locais mais sagrados do Islã sunita e um importante centro de poder político e econômico na região, viram na ascensão do Irã xiita uma ameaça direta ao seu domínio religioso e político. Desde então, a rivalidade entre Irã e Arábia Saudita se intensificou, especialmente em conflitos indiretos conhecidos como "guerras por procuração", onde as duas potências regionais apoiam lados opostos em países terceiros.

Conflitos por Procuração e a Luta pela Influência Regional

A luta entre Irã e Arábia Saudita por influência no Oriente Médio é um dos principais fatores que exacerbam as tensões sectárias na região. Essa disputa de poder é frequentemente refletida em conflitos internos e guerras civis em países como Síria, Iêmen e Líbano.

- Síria: A guerra civil síria, iniciada em 2011, é um exemplo claro de como a divisão sunita-xiita pode ser manipulada para fins geopolíticos. O regime de Bashar al-Assad, composto principalmente por membros da minoria alauíta (um grupo derivado do xiismo), recebeu apoio direto do Irã e do Hezbollah libanês, enquanto os grupos rebeldes sunitas foram apoiados por potências sunitas como a Arábia Saudita, Turquia e Qatar. O conflito sírio se transformou em uma arena de confrontos entre as principais potências regionais, com a divisão sectária desempenhando um papel fundamental na narrativa da guerra.

- Iêmen: A guerra no Iêmen também reflete o conflito sectário, com os houthis, um grupo xiita zaidita, lutando contra o governo sunita apoiado por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita. O Irã tem fornecido apoio material aos houthis, enquanto a Arábia Saudita e seus aliados têm realizado campanhas militares para restaurar o governo sunita. A guerra no Iêmen, além de ser um conflito devastador em termos humanitários, exemplifica a forma como a rivalidade sunita-xiita se manifesta em guerras regionais.

- Líbano: O Líbano é o lar do Hezbollah, um poderoso grupo xiita apoiado pelo Irã. Desde sua fundação, o Hezbollah desempenhou um papel central na política libanesa e nos confrontos com Israel. A presença do Hezbollah reforça a influência iraniana no Líbano e cria tensões contínuas com facções sunitas e cristãs. O Hezbollah também é um ator-chave no conflito sírio, onde suas forças apoiaram o regime de Assad.

- Iraque: O Iraque é outro campo de batalha sectário. Após a queda de Saddam Hussein, um ditador sunita, em 2003, o país viu o crescimento do poder xiita, especialmente com a ascensão de líderes como Nouri al-Maliki. A marginalização da minoria sunita contribuiu para o surgimento de grupos extremistas como o Estado Islâmico (ISIS), que, embora inicialmente formado por sunitas, lançou uma campanha violenta contra xiitas, cristãos e outras minorias no Iraque e na Síria.

Extremismo Religioso e o Uso da Retórica Sectária

Tanto sunitas quanto xiitas têm seus próprios grupos extremistas que exacerbam as divisões sectárias. No lado sunita, grupos como o Estado Islâmico e a Al-Qaeda veem os xiitas como hereges e promovem uma agenda violenta contra eles. No lado xiita, o Hezbollah e as milícias apoiadas pelo Irã no Iraque e na Síria também participam de atividades sectárias, promovendo a ideia de que estão lutando contra uma ameaça sunita existencial.

Essa retórica extremista não só perpetua a violência, mas também dificulta a reconciliação entre as comunidades sunitas e xiitas. Em países como o Paquistão, onde há uma significativa população xiita, ataques terroristas contra xiitas realizados por grupos extremistas sunitas tornaram-se comuns, alimentando uma espiral de violência sectária.

Tentativas de Coexistência e Diálogo

Apesar dos muitos conflitos e tensões, existem esforços para promover a coexistência entre sunitas e xiitas. Movimentos inter-religiosos e líderes religiosos de ambas as vertentes têm trabalhado para superar o ódio sectário e construir uma base comum para a paz e a estabilidade. Na política, alguns países, como o Líbano e o Iraque, adotaram sistemas de governo que garantem representação para ambas as comunidades, embora muitas vezes com resultados mistos.

No entanto, enquanto a geopolítica continuar a explorar essas divisões para fins de poder, será difícil alcançar uma verdadeira reconciliação. A rivalidade entre o Irã e a Arábia Saudita, combinada com os conflitos em curso em países como Síria, Iêmen e Iraque, sugere que a divisão sunita-xiita permanecerá um fator significativo nas relações internacionais e nos conflitos do Oriente Médio.

Conclusão

A divisão entre sunitas e xiitas, que começou como uma disputa pela sucessão após a morte do profeta Maomé, evoluiu para um dos fatores mais influentes na política e nos conflitos contemporâneos do mundo islâmico. Embora compartilhem muitas crenças e práticas, as diferenças teológicas e políticas entre esses dois grupos se aprofundaram ao longo dos séculos, exacerbadas por fatores geopolíticos e disputas de poder. 

Hoje, essa divisão continua a moldar a dinâmica de conflitos em várias regiões do mundo, particularmente no Oriente Médio. No entanto, a esperança de coexistência pacífica ainda existe, e a construção de pontes entre sunitas e xiitas pode ser crucial para alcançar a estabilidade em algumas das regiões mais voláteis do mundo. A chave para o futuro pode estar na promoção de diálogos e acordos que reconheçam as diferenças enquanto buscam o bem-estar comum de todas as comunidades muçulmanas.


Indicações de leitura:

● Os Árabes: Uma História por Eugene Rogan

● Uma História dos Povos Árabes por Albert Hourani 

● Maomé e a ascensão do Islã por David Samuel Margoliouth

● A crise do Islã: Guerra Santa e terror profano por Bernard Lewis

Veja mais em:

https://youtu.be/lzAIbz0sC64?si=gbRup2LAYnC0BWXO

https://youtu.be/II3DaCsSWVw?si=XqruJ0bFavI5mk3v

https://youtu.be/KEMwmhi_YLA?si=HaMwj9eAwcPRQq5X



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