A convivência entre mulçumanos e judeus na Espanha da Idade Média

 

Quando os exércitos islâmicos de Tariq Ibn Musa invadiram a Espanha a partir do norte da África, em 711, parte dos judeus exilados retornou a sua querida pátria. Desta vez, a situação era bastante diferente: os muçulmanos perseguiam os visigodos do norte do país e não hostilizavam os judeus. Ao contrário, eles eram bem acolhidos, e até recebiam certas responsabilidades, como o controle administrativo de algumas cidades conquistadas. Esses judeus desempenharam a função, até então inédita, de agentes colonizadores, e dessa forma, aos poucos, adquiriram a confiança irrestrita dos governantes árabes.

No século 17 as portas se abriam novamente para os judeus, e uma era de paz e prosperidade parecia iniciar-se. A esperança de que esta atmosfera de enorme tranqüilidade perdurasse por muitos anos infelizmente não se concretizou.

O tratamento dado aos judeus pelos árabes era muito melhor do que o cruel jugo oferecido pela Europa cristã, mas a situação estava longe de ser a ideal. O Islã impunha aos dhimi* o pagamento de pesados tributos pelo privilégio de serem tolerados em suas cidades. Tanto os judeus como os cristãos usufruíam a tolerância religiosa e a prosperidade econômica. Mas ainda sob as condições favoráveis definidas no Pacto de Omar** não se podia afirmar que a vida fosse insuportável.

Em 756, com o surgimento da dinastia omíada, proveniente de Damasco, na Síria, uma nova época começava para os judeus ibéricos. Iniciado por Abderraman, este emirado, com capital em Córdoba, duraria 250 anos. Durante gerações sucederam-se lutas internas entre os clãs e as famílias dominantes, sem que a tolerância para com a minoria judaica fosse abalada.

A situação lamentável em que se encontrava o califado de Córdoba melhorou graças a Abderraman III (912-961), que decidiu entregar cargos de confiança aos judeus. Entre os privilegiados, o médico e diplomata Rabi Hasdai Ibn Chaprut. A Espanha árabe atingia seu apogeu político, econômico e cultural.
Com Hasdai Ibn Chaprut iniciava-se a Idade de Ouro dos judeus na Espanha.
Os sábios muçulmanos preservavam e difundiam a erudição, a filosofia, a filologia, a mística, as artes e as ciências de maneira jamais vista. A vida judaica se nutria diariamente desta atmosfera tolerante e do clima de progresso surgido do intercâmbio entre muçulmanos e judeus, cujos talentos a corte estava sempre disposta a promover.
No início do século 11, esse intercâmbio foi abalado por uma forte crise política, que acabou minando o Império Omíada, o mais poderoso estado árabe do Ocidente.

Fonte: FAIGUENBOIM, Guilherme; VALADARES, Paulo & CAMPAGNANO, Anna Rosa. Dicionário Sefaradi de sobrenomes. São Paulo: Fraiha, 2003. 
Imagem: Gravura medieval sem data mostrando um mulçumano, um cristão e um judeu num jogo de xadrez.

Comentários

  1. Excelente! Os muçulmanos deixaram um legado cultural e arquitetônico admirável na Europa, principalmente no sul da Península Ibérica.

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  2. Muito bom meu caro!..

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