A Intentona Comunista de 1935


 

A Intentona Comunista de 1935 representa um momento crucial na história política do Brasil. Esse levante, liderado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), foi um episódio marcante em um período de intensas transformações políticas, sociais e econômicas entre as duas Grandes Guerras Mundiais.

A década de 1930 foi um período de agitação e instabilidade no Brasil. A economia do país, fortemente baseada na exportação de commodities, principalmente o café, enfrentava uma grave crise devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929. O modelo econômico agroexportador revelou-se fragilizado, resultando em uma crise econômica e social profunda, especialmente para os setores mais vulneráveis da sociedade.

Getúlio Vargas ascendeu ao poder em 1930 através de um golpe de Estado, prometendo reformas e mudanças significativas no país. Inicialmente, sua ascensão contou com certo apoio dos comunistas, que viam nele a possibilidade de realizar transformações sociais e políticas em prol dos trabalhadores e camponeses.

No entanto, as expectativas do PCB não foram atendidas. O governo Vargas, apesar de algumas políticas trabalhistas, não implementou as mudanças estruturais esperadas. A repressão aos movimentos sindicais, a ausência de avanços significativos nas reformas sociais e a não realização de transformações profundas alimentaram o descontentamento e a insatisfação de diversos setores da sociedade.

Luís Carlos Prestes, líder do PCB e ex-integrante da Coluna Prestes, tornou-se o principal articulador da Intentona Comunista. A revolta estava planejada para novembro de 1935, com o objetivo de derrubar o governo Vargas e estabelecer um regime socialista.

No dia 23 de novembro, o movimento foi deflagrado principalmente nos estados do Rio de Janeiro (então Distrito Federal), Pernambuco e Rio Grande do Norte. No entanto, a insurreição foi mal coordenada e enfrentou forte resistência das Forças Armadas, que conseguiram rapidamente sufocar a rebelião.

A repressão ao levante foi brutal. Centenas de pessoas morreram, milhares foram presas e torturadas, marcando um dos momentos mais sangrentos da história política brasileira. A Intentona Comunista foi rapidamente controlada pelo governo Vargas, que se aproveitou do episódio para intensificar a perseguição aos comunistas e aos movimentos de esquerda. O próprio termo "Intentona Comunista" foi utilizado como uma forma pejorativa para depreciar o movimento de 1935. Segundo a historiadora Marly Vianna, os levantes ocorreram de forma planejada. Teve forte presença dos militares remanescentes do movimento tenentista que participaram da ANL (Aliança Nacional Libertadora), muito mais do que dos próprios comunistas.   

Os desdobramentos da Intentona foram significativos e abalaram profundamente a estrutura política do Brasil. O PCB foi ilegalizado e perseguido, seus líderes foram presos, e a retórica anticomunista se fortaleceu ainda mais. Vargas utilizou a rebelião como justificativa para consolidar seu poder de forma ainda mais autoritária.

Essa radicalização política culminou na instauração do Estado Novo em 1937, um regime ditatorial que vigorou até 1945. Durante esse período, as liberdades políticas foram suprimidas, a censura se intensificou e a oposição foi reprimida de maneira ainda mais severa.

A Intentona Comunista, embora tenha sido um fracasso em termos de conquistas de seus objetivos, deixou um legado marcante na história política do Brasil. A repressão aos comunistas, a radicalização do governo Vargas e a consolidação de um regime autoritário tiveram impactos profundos, moldando o cenário político e social do país por décadas.

Além disso, o episódio revelou as tensões políticas e sociais que permeavam a sociedade brasileira naquele período turbulento. As motivações por trás da Intentona Comunista refletiam não apenas a insatisfação com o governo, mas também a busca por transformações sociais e econômicas mais profundas, que, mesmo fracassadas naquele momento, contribuíram para o debate político e social posterior no país.

Indicação de leitura: SODRÉ, Nelson Werneck. A intentona comunista de 1935. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.

VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 1935: sonho e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

Imagens: 1- Jornal “A Manhã”, do Rio de Janeiro, noticiando o evento. Disponível: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. 2- Militares do Exército brasileiro que participaram da Intentona Comunista. Disponível: Fundo Correio da Manhã, Arquivo Nacional.  

Comentários

  1. Sempre quis saber o que era isso rs, muito esclarecedor. Completo!

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