Alguns apontamentos da economia escravista brasileira


 O tráfico de pessoas da África para as Américas durou mais de três séculos. Por isso, o Brasil centrou e sedimentou a base da sua economia na mão de obra do africano escravizado. Vejamos: 

"Sem negros não há Pernambuco", afirmava no século XVI o Padre Antônio Vieira. E outro jesuita, André João Antonil, escrevia, no século XVIII, no seu Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas: "os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem ter engenho corrente".

O Brasil, em razão de sua dimensão e da ausência de preocupação com a reprodução biológica dos negros, foi o maior importador de escravos das Américas. Estudos recentes estimam em quase 10 milhões o número de negros transferidos para o Novo Mundo, entre os séculos XV e XIX. Para o Brasil teriam vindo em torno de 3.650.000.

Diversos grupos étnicos ou "nações", com culturas também distintas, foram trazidos para o Brasil. A Guiné e o Sudão, ao norte da linha do Equador, o Congo e Angola, no centro e sudoeste da África, e a região de Moçambique, na costa oriental, foram as principais áreas fornecedoras. Das duas primeiras vieram, entre outros, os afantis, axantis, jejes, peuls, hauçás (muçulmanos, chamados malês na Bahia) e os nagos ou iorubás. Estes últimos tinham uma grande in- fluência política, cultural e religiosa em ampla área sudanesa. Eram de cultura banto os negros provenientes do Congo e de Angola os cabindas, caçanies, muxicongos, monjolos, rebolos, assim como os de Moçambique.

Os escravos trabalhavam na agricultura, nos ofícios e nos serviços domésticos e urbanos. Os negros do campo cultivavam para a exportação atividade que dava sentido à colonização a cana-de-açúcar, o algodão, o fumo, o café, além de se encarregarem da extração dos metais preciosos. Os negros de oficio especializaram-se na moagem da cana e no preparo do açúcar, em trabalhos de construção, carpintaria, olaria, sapataria, ferraria, etc. No século XIX, não foram poucos os escravos que trabalharam como operários em nossas primeiras fábricas. 

Quanto aos negros domésticos, escolhidos em geral entre os mais "sociáveis", cuidavam de praticamente todo o serviço das casas-grandes e habitações urbanas: carregar água, retirar o lixo, além de transportar fardos e os seus senhores em redes, cadeiras e palanquins.

No século XIX generalizou-se ainda a atividade dos negros de ganho e dos ne- gros de aluguel. Os primeiros buscavam serviços na rua, trabalhando como ambulantes, por exemplo, com a condição de dividir com os seus senhores a renda obtida. Os segundos eram alugados a terceiros também para variados serviços. Era comum vê-los nas ruas falando alto, oferecendo-se para trabalhos, chamando a atenção dos pedestres ao se aproximarem com fardos pesados, entoando cantos de trabalho: E, cuê.../Ganhado.../Ganha dinhero/Pra seu sinhô.

Fonte: Biblioteca Nacional

Imagem: Negros no fundo do porão, por Johann Moritz Rugendas, 1835.

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