Alguns apontamentos sobre a economia colonial no Rio de Janeiro do século XIX
A economia do Brasil nos períodos colonial e Imperial estava intrinsecamente ligada ao trabalho escravo. A mão de obra dos escravos de ofícios era parte relevante nesta engrenagem. Segundo a historiadora Mary Karasch:
"Da perspectiva dos senhores de escravos do Rio de Janeiro, havia apenas um papel apropriado para os cativos: realizar todas as atividades manuais e servir de bestas de carga da cidade. Eles eram não somente as máquinas e "cavalos" da capital comercial-burocrática, mas também a fonte da riqueza e do capital de seus donos. Todos tentavam investir em pelo menos um escravo, que forneceria suporte financeiro e mão de obra. Os ricos acumulavam tantos "homens-máquinas" quanto possível e punham-nos a trabalhar em diversas profissões. O papel do cativo no ambiente urbano merece um exame detalhado.
Em geral, os escravos cariocas eram forçados a labutar na agricultura e em atividades de subsistência, transporte, manufatura, pedreiras, obras públicas, vendas e serviços e administração. A maioria deles, evidentemente, era empregada em atividades braçais, desprezadas pelos seus senhores. Em cada setor da economia, as ocupações braçais sem especialização ou semi-especializadas eram exercidas pela maioria. Mas a variedade de ocupações braçais especializadas abertas então aos escravos é peculiar ao período, e uma minoria deles ocupava posições de responsabilidade em artes e ofícios, ao mesmo tempo, em que alguns exerciam cargos de supervisores, capatazes e feitores.
Alguns escravos tinham até propriedades, inclusive outros escravos. Porém, essa classificação é imposta sobre as fontes, pois os senhores nem sempre mantinham uma divisão rígida do trabalho, uma vez que esperavam que seus escravos de ambos os sexos fossem versados em tantas funções quantas lhes fossem exigidas. Assim, uma escrava podia fazer serviço doméstico, vender comidas e bebidas nas ruas e costurar.
Os escravos também eram úteis aos senhores porque exerciam muitas funções além de trabalhar. Nas manhãs de domingo ou nos passeios de fim de ar de, por exemplo, os donos faziam-nos desfilar pelas ruas da cidade para exibir sua posição social e riqueza."
Fonte: KARASCH, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850, p. 259-260.
Imagem: Boutique de cordonnier por Jean Baptiste Debret, 1835.
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