Gênese, por Stella Leonardos

E Deus fez o macaco.

E olhou para trás não era bastante.

E séculos fizeram do bicho quatro mãos e longo rabo um homem da caverna domador do fogo, da pedra e do ferro.

E Deus olhou para trás e não era bastante.

E séculos fizeram do bicho-homem um bicho-poeta, senhor da idade do ouro inocência, coração de arco-íris lendas, irmãos dos rios e dos pássaros, rapsodo e herói das sagas e das fábulas.

E Deus olhou para trás e não era bastante. E séculos fizeram do bicho-poeta um ser-inteligência.

E féz-se o homem máximo ser da criação: astrónomo, filósofo, inventor, desbravador de mares tenebrosos e mundos insonhados.

E Deus olhou para trás e não era bastante. E séculos fizeram do máximo ser da criação homem de ciência, explorador do poderio atômico, astronauta além do azul tão céu da terra.

E o homem olhou para Deus e não era bastante.

E o homem endeusou-se. 

E o homem super-homem esqueceu-se que era humano e atenta contra a própria humanidade que tantos séculos lograram desanimalizar. Já não tem alma: apenas sexo.

Já não tem mãos: epenas garras e nas garras máquinas de arrasar cosmos.

É um todo poderoso irracional olhando a frente sem ver.

Se olhar para trás verá que têm rabo.