Os sambaquis


Os sambaquis representam um fascinante capítulo da pré-história brasileira, revelando uma complexa teia de culturas que habitaram o litoral Atlântico ao longo de milênios. Esses montes de conchas, que se destacam na paisagem costeira, são formados principalmente por restos de moluscos, peixes, mamíferos marinhos e artefatos utilizados por comunidades pré-históricas.

A palavra "sambaqui" tem origem tupi-guarani e significa "monte de conchas". Esses amontoados surgiram ao longo de diversas épocas, abrangendo um arco temporal extenso que vai aproximadamente de 8000 a.C. a 1300 d.C. Essa longa presença indica uma adaptação bem-sucedida dessas comunidades ao ambiente litorâneo.

Os sambaquis se distribuem ao longo de toda a costa brasileira, desde o Rio Grande do Sul até o Amapá. Cada região possui características particulares em relação à composição das conchas e aos artefatos encontrados. No entanto, a concentração desses montes é especialmente marcante em áreas como a Baía de Paranaguá, em Santa Catarina, e a Ilha de Marajó, no Pará.

Diversas populações estiveram envolvidas na construção e manutenção dos sambaquis. Grupos caçadores-coletores, que dependiam fortemente dos recursos marinhos, foram os principais construtores. A complexidade dos sambaquis sugere uma organização social significativa e o desenvolvimento de tecnologias específicas para a coleta de alimentos, construção e manutenção desses montes.

A motivação para a construção dos sambaquis está intimamente ligada à subsistência. A utilização intensiva de recursos marinhos, como moluscos e peixes, sugere que essas comunidades buscavam uma forma de armazenar e gerenciar seus alimentos de maneira eficiente. Além disso, os sambaquis podem ter desempenhado papéis culturais e rituais, servindo como locais de sepultamento e cerimônias.

O desaparecimento dos povos sambaqueiros é um mistério que desafia os arqueólogos. Diversas teorias foram propostas, incluindo mudanças climáticas, eventos catastróficos, pressões ambientais e até mesmo conflitos com outros grupos. Contudo, não existe consenso sobre qual fator desencadeou o declínio dessas comunidades e o abandono progressivo dos sambaquis.

A riqueza arqueológica dos sambaquis oferece uma janela única para o passado pré-colonial do Brasil, revelando práticas sociais, tecnológicas e econômicas que moldaram as comunidades que habitaram o litoral Atlântico por milênios. A preservação desses sítios arqueológicos é crucial para a compreensão contínua de nossa história e identidade como nação.

Nota: Num recente estudo genético  conduzido por cientistas brasileiros e publicado no periódico Nature Ecology & Evolution,  revelou novas descobertas acerca dos sambaquis. 

Esse estudo pode ser acessado em: www.nature.com/articles/s41559-023-02114-9

Imagem: Sambaqui da Roseta, Santa Catarina. Por Ximena Villagran.


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