Passados 523 anos em terra Brasilis


Há 523 anos passados, chegavam ao Pindorama os portugueses. Num 22 de abril de 1500 temos, portanto, o registro oficial do achamento desta terra que conhecemos por Brasil. Claro, achamento, afinal, por aqui o território já era habitado por milhares de pessoas que tinham cultura própria. O registro desta façanha está descrito na carta ao el-Rei Dom Manuel, manuscrita em 1.° de maio daquele ano, pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, da frota comandada por Pedro Álvares Cabral. A carta é considerada uma espécie de certidão de nascimento do Brasil. A visão do conquistador frete ao conquistado. Sobre as primeiras impressões que Caminha notou daquela gente, no que hoje é a cidade de Porto Seguro, ele relatou: 

"[...] E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.

Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram. Mas não pôde deles haver fala nem entendimento que aproveitasse, por o mar quebrar na costa. Somente arremessou-lhe um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E um deles lhe arremessou um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas, como de papagaio. E outro lhe deu um ramal grande de continhas brancas, miúdas que querem parecer de aljôfar, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza. E com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar. [...]"

Se os portugueses estranharam os hábitos por eles testemunhados, imagine para aqueles filhos da terra. Possivelmente ocorreu uma experiência antropológica numa via de duas mãos.

Imagem: Uma parte da carta escrita por Pero Vaz de Caminha. 

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