Vencer o tempo?



Numa luta desigual, travo o embate contra o implacável adversário: o tempo. A tarefa ingrata de vencê-lo parece mais impossível a cada amanhecer. É uma peleja cujo desfecho já se delineia, uma derrota que se anuncia inexorável. 

Minha estratégia é apenas enganá-lo, postergar sua vitória. Nos ringues da vida, vejo-me à mercê dos rounds cronometrados, onde o tempo é o juiz inapelável. Cada batida do relógio é um golpe, uma marca que ele deixa em minha carne.

Ao passo que as estações se sucedem, vejo-me pagando tributos a esse senhor inflexível. O corpo cede, a sanidade vacila, e entre a alegria e a angústia, a balança oscila desfavoravelmente. Ganho algumas lembranças, mas perco parte do vigor da juventude.

Testemunho o espetáculo da história, onde os protagonistas são entrelaçados em um intricado enredo. Vejo impérios erguerem-se e ruírem, vejo rostos queridos envelhecerem e partir. A cada página virada, o peso do tempo se faz mais palpável.

E no entanto, sigo. Luto, não pela vitória, mas pela honra de resistir. Aceito que o tempo seja um adversário invencível, mas recuso-me a ser um mero espectador de minha própria derrocada.

Nesta peleja, encontro minha coragem não na expectativa de vencer, mas na dignidade de enfrentar o inevitável. O tempo pode levar meus dias, mas não minha vontade de vivê-los com inteireza e paixão

Assim, mesmo diante da contagem regressiva, ergo-me e enfrento o próximo round com bravura. Aceito a derrota iminente, mas não a submissão. O tempo é o nó górdio da vida. Pois no ringue do tempo, a verdadeira vitória reside na maneira como enfrentamos a batalha, na coragem de seguir adiante, mesmo sabendo que a lona é nosso destino final.

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