A fake news dos marmiteiros

 



Duas semanas antes das eleições presidenciais de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, favorito da disputa presidencial, faz um tremendo gol contra, num ato no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quando discursava para a elite carioca. No meio do discurso, ele agride os eleitores getulistas ao dizer que dispensa o voto da “malta de desocupados que andam por aí”.

No dia seguinte, o empresário trabalhista Hugo Borghi, dono de 150 emissoras de rádio, transmitiria para todos os cantos do país sua interpretação do discurso do brigadeiro. Pinçando no dicionário a definição de “malta” como “turma de trabalhadores que comem em marmita”, Borghi carimbou a ideia de que o candidato desprezava o voto dos “marmiteiros” e do povo humilde.

“Marmiteiros? Mas o que é isso?” — respondeu Eduardo Gomes ao jornalista que o procurou para confirmar as informações divulgadas por Hugo Borghi. Foi outro tiro no pé. Pelo visto, o brigadeiro não sabia nem o que era uma marmita. E mais: menosprezou a importância da notícia, dizendo que não passava de uma tolice.

Foi um rastilho de pólvora que em 15 dias consumiria a pouca simpatia que os trabalhadores tinham pelo candidato udenista. As ruas se encheram de folhetos de apoio aos marmiteiros.

O caricaturista José Nelo Lorenzon criou o Zé Marmiteiro, personagem de charges políticas que ocuparia diariamente as páginas do “Jornal de São Paulo”. Murilo Caldas compôs a marchinha “Marmiteiro”, interpretada por Valdomiro Lobo. Nos comícios dos candidatos do PTB, os trabalhadores levavam suas marmitas de alumínio e batiam nelas com talheres.

O jornalista Carlos Lacerda ainda tentou alertar Eduardo Gomes de que o barco fazia água, mas o brigadeiro não lhe deu ouvidos.

Dias depois, o ex-presidente Getúlio Vargas apoiaria oficialmente a candidatura do candidato do PSD, Eurico Gaspar Dutra. Foi a pá de cal na campanha udenista, que acabaria perdendo a eleição por grande diferença.

Fonte: <memorialdademocracia.com.br>


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