O estranho ser da caneta
Ao me deparar com a caneta, tal objeto de outrora, fui tomado por um estranhamento peculiar. Esses tempos modernos! O dedilhar dos teclados, a rapidez digital, relegaram a pobre caneta ao ostracismo, transformando-a em um ser esquecido. E agora, diante de mim, parecia uma criatura antiquada, fora de seu tempo.
Ela me fitava com olhar melancólico, como se implorasse por uma chance de ser útil novamente. Confesso que relutei, afinal, escrever com a caneta requer uma destreza quase esquecida, uma paciência de monge copista, uma coragem enfrentada por poucos. Mas, movido pela curiosidade e por um amor à nostalgia, decidi conceder-lhe uma oportunidade.
Ao pegá-la entre meus dedos, estranhei sua textura áspera, sua estrutura rígida. Era como segurar uma preciosidade de outro tempo, um objeto que atravessara séculos e agora ressurgia diante de meus olhos incrédulos. O papel, igualmente esquecido, estendeu-se à minha frente, esperando ser preenchido com letras que surgiriam daquela caneta, um instrumento do passado.
A primeira tentativa resultou em uma linha trêmula e vacilante, uma letra indecisa entre o presente e o passado. O fluxo de pensamentos, acostumado às teclas, estranhava o deslizar suave da caneta sobre o papel. Era como tentar andar em uma terra desconhecida, um caminhar hesitante por entre reminiscências.
A cada palavra escrita, a caneta parecia ganhar vida própria, como se, por um momento, seu destino fosse traçado por meus dedos, seu corpo um prolongamento de minha mente. Sua tinta fluía, imprimindo palavras e emoções, enquanto minha mente se adaptava lentamente à cadência nostálgica da escrita manual.
Percebi que aquele gesto tão simples, de escrever com uma caneta, trazia consigo uma sensação de conexão com o passado, um resgate de algo que quase se perdera no avanço desenfreado da tecnologia. Os caracteres impressos ganhavam um encanto especial, uma personalidade singular, cada palavra carregada de uma intimidade única.
O tempo, no entanto, é inexorável. Os teclados dominam o presente e prometem moldar o futuro. Mas, ao menos por um breve instante, a caneta reivindicou seu lugar, mostrando que, embora estranha em um mundo digital, ainda tinha o poder de encantar e criar um elo com tempos idos.
Ademais, entre subtilezas e ironias, escrevi essas palavras, na tentativa de capturar um pouco desse encontro singular com a caneta. Que ela não seja apenas um objeto esquecido, mas uma lembrança das artes manuais, um símbolo da nossa humanidade em meio ao avanço da tecnologia. Que sua existência, ainda que incomum, seja celebrada e respeitada, como um tesouro em nossas mãos digitais.
Vou tomar o seu texto emprestado: "Ao me deparar com o PAPEL, tal objeto de outrora, fui tomado por um estranhamento peculiar. Esses tempos modernos!..." Como designer gráfico, me assusta quando um cliente me pede para produzir algum impresso...
ResponderExcluirFique à vontade! Obrigado amigo!
ExcluirMuito interessante essa reflexão!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirÉ verdade... Objeto bem estranho... Dificuldade até de manusear... A minha letra até mudou o formato pela falta de uso...
ExcluirOcorre o mesmo comigo. Obrigado pelo comentário.
ExcluirGosto da tecnologia , mas não esqueço a caneta , os livros , o papel . Parece meio esquisito, mas na minha bolsa não falta nem caneta nem papel . Fazendo uma analogia a caneta é a bailarina e minha mão a sapatilha .
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