A Dinâmica Social, Política e Econômica de Esparta: Periecos e Hilotas
Contexto Histórico e Estrutura Social de Esparta
Esparta, localizada na região do Peloponeso, era uma das cidades-Estado mais poderosas da Grécia Antiga. Sua sociedade era organizada em torno de princípios militares e de disciplina, com o objetivo de manter o controle sobre uma população numericamente superior de hilotas e periecos. A estrutura social espartana era dividida em três grupos principais: os esparciatas, que eram os cidadãos plenos com direitos políticos; os periecos, que eram livres, mas sem direitos políticos; e os hilotas, que eram servos do Estado e viviam em condições de submissão total.
Essa estratificação social era justificada pela necessidade de manter o controle sobre os hilotas, que eram numericamente superiores e representavam uma constante ameaça de rebelião. A estabilidade de Esparta dependia da manutenção dessa hierarquia, que era sustentada por meio de leis rigorosas, práticas culturais e um sistema de terror institucionalizado.
Os Periecos: Trabalhadores Livres sem Direitos Políticos
Os periecos eram um grupo social que vivia na periferia de Esparta, em áreas rurais e costeiras. Eram considerados livres, mas não tinham direitos políticos, o que os colocava em uma posição intermediária entre os esparciatas e os hilotas. Sua liberdade, no entanto, era relativa, pois estavam sujeitos às leis e ao controle do Estado espartano.
Dinâmica Econômica dos Periecos
Economicamente, os periecos desempenhavam um papel crucial na sociedade espartana. Eles podiam se dedicar ao comércio, ao artesanato e ao cultivo agrícola, atividades que eram essenciais para a economia da cidade-Estado. Enquanto os esparciatas se concentravam no treinamento militar e na administração do Estado, os periecos garantiam a produção de bens e a circulação de mercadorias.
Eles também podiam possuir terras e bens móveis, o que lhes conferia uma certa autonomia econômica. No entanto, essa autonomia era limitada pelo pagamento de impostos ao Estado espartano, que utilizava esses recursos para manter o exército e a estrutura de poder. Além disso, os periecos eram obrigados a servir no exército, mas em unidades separadas dos esparciatas, o que reforçava sua posição subalterna na hierarquia social.
Dinâmica Social e Política dos Periecos
Socialmente, os periecos eram marginalizados em relação aos esparciatas. O casamento entre periecos e esparciatas era proibido, o que impedia a ascensão social e a integração entre os dois grupos. Essa proibição era parte de uma estratégia mais ampla de manter a pureza e a superioridade dos esparciatas, que se consideravam uma elite guerreira.
Politicamente, os periecos não tinham voz nas decisões do Estado. Eram excluídos da Assembleia espartana e não podiam participar do governo. Sua falta de direitos políticos refletia a natureza oligárquica e militarista de Esparta, onde o poder estava concentrado nas mãos de uma minoria de cidadãos.
Os Hilotas: Servos do Estado em um Regime de Terror
Os hilotas eram o grupo mais subjugado da sociedade espartana. Eram servos do Estado, ligados às terras que cultivavam e obrigados a fornecer alimentos e outros recursos para os esparciatas. Diferentemente dos escravos comuns, os hilotas não eram propriedade privada de indivíduos, mas sim do Estado, o que os colocava em uma posição única de servidão coletiva.
Dinâmica Econômica dos Hilotas
Economicamente, os hilotas eram a base da economia espartana. Eles trabalhavam nas terras dos esparciatas, cultivando produtos agrícolas como cereais, azeitonas e uvas. A maior parte do que produziam era destinada aos esparciatas, que dependiam desses recursos para manter seu estilo de vida e seu poder militar.
Apesar de sua importância econômica, os hilotas viviam em condições extremamente precárias. Eram explorados de forma sistemática e viviam sob constante ameaça de violência. O Estado espartano mantinha um regime de terror sobre os hilotas, utilizando práticas como a Krypteia, uma espécie de polícia secreta que assassinava hilotas considerados perigosos ou rebeldes.
Dinâmica Social e Política dos Hilotas
Socialmente, os hilotas eram considerados inferiores e desprezados pelos esparciatas. Eram vistos como uma classe perigosa e potencialmente rebelde, o que justificava a brutalidade com que eram tratados. A relação entre esparciatas e hilotas era marcada por um profundo antagonismo, com os primeiros dependendo dos segundos para sua subsistência, mas ao mesmo tempo temendo sua revolta.
Politicamente, os hilotas não tinham nenhum direito. Eram completamente excluídos da vida política de Esparta e viviam sob um regime de opressão que negava sua humanidade. A falta de mobilidade social era uma característica fundamental da sociedade espartana: os hilotas não tinham possibilidade de ascender a uma posição melhor, e sua condição era transmitida de geração em geração.
A Estratificação Social e a Imobilidade em Esparta
A sociedade espartana era fortemente estratificada, com pouca ou nenhuma possibilidade de mobilidade entre os três grupos principais: esparciatas, periecos e hilotas. Essa rigidez era essencial para manter a ordem social e o poder da elite espartana. A imobilidade social era garantida por leis, práticas culturais e um sistema de controle que perpetuava as desigualdades.
Os esparciatas, no topo da hierarquia, desfrutavam de privilégios políticos, econômicos e sociais. Eram os únicos com direitos políticos e controlavam o Estado e o exército. Os periecos, embora livres, eram marginalizados e excluídos do poder político. Já os hilotas, na base da pirâmide social, eram completamente oprimidos e explorados. Segundo o historiador Ciro Flamarion Cardoso:
Entre os súditos dos esparciatas, os periecos tinham situação relativamente favorável. Se por um lado não podiam participar da vida cívica de Esparta - o que não os eximia do combate como hoplitas, sob mando esparciata monopolizavam o comércio e o artesanato (pela proibição de viverem metecos na Lacônia e na Messênia e pela proibição das operações de comércio com o exterior, salvo aquelas em que os periecos agissem como intermediários), podiam ter bens e terras (distintas das terras cívicas) e comprar escravos. Governavam as suas comunidades com autonomia quanto aos negóciosinternos, mas sob a vigilânciade um governador esparciata nomeado para cada uma delas; naturalmente não podiam ter uma política externa própria. Não são conhecidas revoltas de periecos a não ser tardiamente.
Os hilotas, camponeses que durante muito tempo foram vistos como escravos públicos, trabalhavam nos lotes atribuídos aos esparciatas, entregando-Ihes de início a metade da colheita e, mais tarde, segundo parece, uma quantidade fixa de produtos. Podiam possuir bens e constituir família, mas eram tratados com grande dureza. Iam à guerra em princípio como auxiliares e serviçais; mas a intensificaçãodas guerras externasfez com que fosse necessário armar como hoplitas a muitos hilotas. Estes só podiam ser alforriados pelo Estado. Suas revoltas cruelmente reprimidas mas sempre recomeçadas - e o fato de que eles e os periecos com o tempo passassem a constituir a grande maioria do exército espartano foram fatores de enfraquecimento do regime tradicional.
Do ponto de vista político, os espartanos reconheciam em primeiro lugar dois reis, hereditários (não necessariamente em linha direta, nem segundo o princípio de primogenitura) em duas famílias, os Agidas e os Euripôntidas. Os reis tinham altas funções religiosas e comandavam o exército; não tinham poderes políticos efetivos, a não ser como membros ex ollido do Conselho de anciãos, eram obrigados a jurar lealdade à constituição e vigiados de perto pelos magistrados ou éforos. A Gerúsia ou Conselho de anciãos era composta pelos dois reis, mais 28 cidadãos com mais de sessenta anos (isto é, liberados das obrigações militares). Eram vitalícios e eleitos de forma curiosa: os candidatos ao cargo - ao abrir-se vaga pela morte de algum dos gerontes - desfilavam diante da assembléia popular e eram aplaudidos; juízes encerrados numa casa próxima, de onde não podiam ver o desfile e que desconheciam a ordem (estabelecida por sorteio) em que passariam, avaliavam qual dos candidatos fora o mais aplaudido - se o primeiro, o segundo, o terceiro, etc., sendo este o vencedor. (CARDOSO: 1995, p. 54-55)
Conclusão
A dinâmica social, política e econômica de Esparta era profundamente marcada pela divisão entre esparciatas, periecos e hilotas. Essa estrutura hierárquica garantia a estabilidade interna e o poder militar do Estado, mas também perpetuava desigualdades profundas e um sistema de opressão. Os periecos, embora livres, eram marginalizados e excluídos do poder político, enquanto os hilotas viviam em condições de servidão e terror. A rigidez dessa estratificação social refletia os valores e as prioridades de Esparta, uma sociedade militarista e oligárquica que valorizava a disciplina, a ordem e a manutenção do status quo acima de tudo.
Indicação de leitura:
● A Cidade-Estado Antiga por Ciro Flamarion S. Cardoso
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